quarta-feira, agosto 10

Para xente normal*

*O título é roubado do slogan publicitário de José Antonio, da Flor de Montouto (nota do fusilador).

Tamén se pode falar da feira segundo se leu nela:

O meu avô era enfermeiro no Miguel Bombarda. Foi o meu avô que me ensinou a nunca usar o epíteto de “louco” para designar um gajo porreiro, um político esgrouviado ou um escritor pitoresco. A loucura não tem romance nenhum, é solidão, um fio cortado na ligação entre o mundo interior e o mundo exterior, quando não pior. Uma das muitas histórias que eu lhe ouvia em pequeno era a do médico —precisamente o dr. Miguel Bombarda— que um dia foi esfaqueado mortalmente por um psicótico e, apesar de esvaído em sangue, ainda teve forças para gritar: “Não lhe façam mal, é apenas um doente!” Creio que, se o meu avô tivesse surpreendido uma turba a ameaçar Salazar, diria o mesmo. Eu, graças a Deus, não sou assim.

Rui Zink, “Silvina”, em A Palavra Mágica e outros contos, Publicações Dom Quixote.